quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Capítulo 12

Juro que por um momento senti vontade de sair correndo daquele apartamento, correr pra bem longe, onda nem Inara, nem Cézar e nem ninguém pudesse me ver. Só de olhar pra ele comecei a soar, sem saber o que dizer, e mesmo que soubesse, não iria conseguir falar nada, já que a minha língua estava trêmula demais para balbuciar qualquer palavra que fosse. Cézar e Inara se olharam, e depois Inara me olhou, como se dissesse com os olhos: " Fala alguma coisa , sua anta! ". Eu voltei ao normal, sorri e apertei a mão dele, com força, depois vi que estava usando força demais, afrouxei o aperto, depois vi que estava usando força de menos, resolvi largar a mão dele. Ele sorriu, deve ter percebido a mancadinha, mas ora bolas, fui pega de surpresa! 

- Senta Olga, vem tomar um chá com a gente. 

Inara disse apontado o canto do sofá que ficava bem ao lado de onde Cézar estava sentado. Sentei, ele sentou de novo, levantei e dei dois passos. Inara me perguntou onde eu ia, respondi:

- Vou pegar uma xícara pra acompanhar vocês no chá! 
- Eu pego pra você. 

Disse ela, me empurrando de volta pro lugar onde eu estava. Nos deixou alí sozinhos, e eu não sabia o que dizer, não sabia como agir, esperava que Cézar não dissesse nada, mas ele disse, e tive que responder, tentando parecer natural, suando feito uma porca, horrível.

- Então você conheceu Inara na lanchonete onde ela trabalhava, é isso mesmo?
- Isso mesmo, eu trabalho lá, ela não trabalha, quer dizer, trabalhava, agora não trabalha mais lá, isso por que ela trabalhava mas pediu demissão, então ... sim.

" Que merda foi essa , cara? ". Esse foi o meu pensamento assim que calei a boca, e tenho certeza plena que foi o pensamento de Cézar também. 

- Seu apartamento é muito aconchegante, sabe? Achei agradabilíssimo! 

Nossa, por que ele não cala a boca? Precisa mesmo forçar essa interação social completamente desnecessária? Respondi com um '' obrigada '' forçado, sem graça. Eu sabia bem que ele estava apenas sendo gentil comigo, eu não sou louca, sei que meu apartamento não é nem um lixão, mas " aconchegante e agradabilíssimo " já é demais! Puta merda,hein? 
Inara voltou pra sala rindo e nos contando que escorregou e caiu no chão, e quando foi se levantar bateu com a cabeça no armário, imediatamente Cézar começou a rir junto, como se tivesse visto a cena toda. Eu ri também, mas também pensei que a culpa era dela, afinal, quem foi quem encerou todinho o chão? E assim o papo seguiu, eles conversavam e riam, Inara sempre tentava me introduzir na conversa, eu falava pouco, ria pouco, não olhava diretamente nos olhos dele, queria que ele fosse embora. Inventei uma dor de cabeça, pedi mil desculpas,disse que ia tomar um remédio e dormir pra acordar disposta no dia seguinte, me despedi, agradeci a visita e saí. Os dois ficaram lá, deitei na cama e coloquei o travesseiro na cabeça, tentava abafar o barulho das risadas deles, e até ouvi uns barulhos de copos, pareciam taças, acho que compraram vinho, sei lá, não queria mais ouvir. Quando ouvi a porta da sala batendo levantei pra ir até o banheiro, dei de cara com Inara, ela estava com os olhos vermelhos, parecia meio bêbada. Tivemos uma breve conversa.

- Ah, acho que bebi demais, preciso de um banho...
- Eu ia até o banheiro, mas espero você terminar.

Antes de fechar a porta do banheiro Inara me olhou, e eu não contive minha curiosidade e perguntei: 

- Você bebeu chá demais e por isso está assim?
- Não, o chá foi só no começo - respondeu ela - depois nós abrimos um vinho que Cézar trouxe, acho que exagerei um pouco, está tudo rodando sabe? Nossa, fazia um tempo que eu não bebia vinho, está tudo muito engraçado.
- Tome o seu banho, depois te ajudo a chegar na cama tudo bem?
- Tudo bem. 

Ela fechou a porta e eu fui para a sala, sentei no sofá e coloquei as mãos no rosto, fechei com muita força os olhos, acho que estava com inveja da felicidade momentânea que o vinho causou em Inara. Foi aí que ouvi um barulho, um barulho quase imperceptível aos ouvidos de uma pessoa, o barulho de um papel arrastando no chão. Levantei a cabeça procurando de onde vinha aquele som, meus olhos deram de encontro a porta de entrada do apartamento, e sim, o barulho vinha de lá, havia um papel em baixo da porta, fui ver e era um bilhete, abri , por que eu ia esperar? Se estava na minha porta então era pra mim. Não era. Adivinhe só pra quem era ... 

" Inara, adorei a noite, me diverti bastante, espero repetir essa sensação tão boa que sinto quando converso com você. Espero que você não fique achando que é apenas mais uma cantada de homem, mas sinceramente adorei ter conhecido você, e quero te ver muitas outras vezes. Você já tem meus números, eu gostaria que me ligasse, caso sinta a mesma vontade de me ver ou de apenas conversar comigo pelo telefone. Você tem uma luz que jamais encontrei em pessoa alguma, não me prive dessa iluminação tão maravilhosa que vem do seu olhar. E se você não quiser mais me ver ou falar comigo eu vou entender, e te agradeço desde já por toda a atenção e por ter me devolvido minha foto e minha caixinha , mas eu sinto que vamos nos ver de novo, sei que é recíproco o sentimento de conforto causado quando estamos juntos. Me ligue, vou esperar todos os dias, por que sei que você vai ligar, sinto isso com todas as minhas forças. Você é lindíssima, tenha um resto de noite confortante e feliz, assim como o meu será,por que lembrarei do seu sorriso até pegar no sono. 

P.s: deseje melhoras a dor de cabeça da sua amiga .
Cézar.  " 

Então era isso, nem nome mais eu tinha, eu era só a amiga da Inara, a mulher com um olhar iluminado e uma luz própria que causava conforto. Duas conversas, e ela já era a mulher mais especial que ele conheceu. Eu disse em voz baixa : " Idiota! ". Só não sabia se estava dizendo aquilo pra mim, ou pra ele. Coloquei o papel de volta perto da porta, Inara não precisava saber que eu tinha lido. Eu não queria ter lido. Ela saiu do banheiro, eu a ajudei a se vestir e deitar na cama, ela logo dormiu, ao contrário de mim, que fiquei batutando em como seria a reação dela ao ver o bilhete de Cézar. Várias vezes pensei em ir até lá e rasgar o bilhete, ela nunca iria saber. Mas se eu fizesse isso não seria ético da minha parte... se bem que eu já não tinha ética por natureza mesmo. Nessa indecisão acabei dormindo, o que não deveria ter acontecido. 

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