quarta-feira, 25 de julho de 2012

Capítulo 11

Cézar estava bonito, cabelo bem arrumado, roupas claras, sapatos polidos. O ver pela primeira vez era uma sensação boa, acho que a palavra ' boa ' descreve a sensação perfeitamente. Por um mísero minuto esqueci toda a deslumbrância de Inara, mas assim que as mãos dos dois se tocaram, num gesto de cumprimento, lembrei do quão burra eu estava sendo por permitir uma moça do feitio de Inara me substituir num momento que eu precisava vivenciar. Abaixei os olhos, pensando no que eu poderia dizer, no que poderia acontecer se eu tivesse ido lá, se tivesse tomado as rédeas da situação que eu mesma criei e não tive coragem de enfrentar. Fiquei de cabeça baixa por mais ou menos meio minuto, quando olhei novamente Inara estava falando enquanto Cézar a olhava fixamente, com um sorriso no lábio, depois foi sua vez, Inara o encarava enquanto ele falava, depois começaram a rir. " Por que estão rindo? Ela só deveria entregar a caixa! " . Eu não sabia o que estava acontecendo, eu não sabia o motivo das risadas, eu não sabia nada! Comecei a suar, suor de curiosidade. Horrível. Conversaram mais, e num gesto sexy e ao mesmo tempo inocente, Inara abaixou-se e tirou de dentro da bolsa a caixa, colocou o cabelo pra trás, deixando o decote a mostra, enquanto falava e colocava a caixa nas mãos de Cézar. Ele parecia emocionado. Conversaram mais, aliás, conversaram muito! Depois de tanta conversa e risadas, os dois se levantaram deram as mãos e deram também um beijinho no rosto. Não gostei, mas quem era eu pra gostar ou não de algo? Cézar foi embora. Inara veio até mim. Sorrindo me pediu desculpas pela demora, disse que explicou todo o acontecido a ele, eu respondi com um simples: '' Tudo bem ". Fomos pra casa, Inara não puxou conversa, não me contou sobre o que conversaram, não me perguntou o que achei dele, ficou muda. Chegamos em casa e fui direto pro banheiro, fiquei dentro da banheira por mais de uma hora, pensando na merda da conversa dos dois. Inara preparou o jantar, arrumou todinha a mesa, comeu, lavou seu prato, deixou a mesa posta pra mim. Fiquei encostada na janela, enquanto ela fazia todas aquelas coisas. 

- Assim você pega uma pneumonia ...

Me assustei. Sem me virar eu disse:

- O quê?
- Se ficar aí nessa janela só de toalha, vai pegar uma pneumonia, uma gripe ou sei lá o quê.

Suspirei. Não fiz nada, nem me movi. E foi aí que a conversa que eu não precisava ter se iniciou.

- Olga, o que há? Fiz algo que te chateou?
- Não.
- Então pode me contar o que te preocupa?
- Não estou preocupada. 
- Então o que é?
- Nada.

Ela se levantou e colocou a mão no meu ombro, como se quisesse me virar de frente pra ela. Não virei.

- Então é verdade, você está chateada comigo! Mas por que?
- Você acha que eu tenho motivos pra ficar chateada?
- Creio que não...
- Então por que tanto se importa? Se sua consciência está limpa, não fique se preocupando.

Inara ficou paralisada, sem dizer ou fazer nada. Eu também me mantive quieta, o ambiente ficou silencioso, eu podia até ouvir nossas respirações. Ela saiu e foi para o quarto, e depois de pensar muito resolvi ir até lá, não havia motivos pra eu ficar chateada com ela, eu não era namorada, noiva ou qualquer coisa do tipo de Cézar, e Inara me fez um favor, fez uma coisa que eu não tive coragem de fazer, eu estava sendo grossa por nada. Entrei no banheiro para terminar de me trocar, e depois deitei na cama ao lado dela, ela olhou pra mim e esperou que eu dissesse algo.

- Inara, desculpa tá? Eu tenho essas mudanças de humor repentinas, isso sempre acontece. 
- Você pode agir como quiser Olga, a casa é sua.
- Mas isso não me dá o direito de ser grossa com você, que me fez um favor. E então? Ficamos de bem?
- Sim, ficamos!
- Conte-me , o que Cézar disse?
- Ele disse que havia perdido aquela caixa a uns meses, que era um presente para uma moça que conheceu a algum tempo atrás, e não queria perder o contato com ela, por isso os números de telefone. Sabe Olga, ele é muito simpático, acho que você deveria ter ido conhecê-lo.
- Ora, eu sou meio tímida, não ia ser uma boa conversa.
- Ele disse que a atitude de devolver a caixa o impressionou, e que gostaria de me encontrar de novo, para agradecer formalmente pela devolução.

Outro encontro? Ele queria outro encontro? Um simples '' obrigado '' não seria o bastante? E ela continuou :

- Pediu que eu entrasse em contato, caso quisesse aceitar um jantar de agradecimento, deixou os números de telefone comigo, eu fiquei de pensar no assunto, mas claro que isso foi uma desculpa para poder te consultar sobre isso.
- Claro! Você pode telefonar e marcar com ele, sem problemas.
- Que ótimo Olga, assim vocês podem se conhecer!
- Não não, você sai com ele, eu espero pra ver o que você vai dizer, se ele realmente for um cara legal, quem sabe?
- Como quiser.
- Boa noite Inara.
- Já vai dormir? 
- Sim. Boa noite.
- Boa noite então.

Virei-me e me embrulhei, minha cabeça ficou fervendo, como eu ia conviver com isso? Será que ele realmente estava querendo agradecer, ou a beleza invejosamente bonita de Inara tinha o feito querer vê-la novamente? Droga. Lá estava eu com ciúmes de novo, sem motivos, sem razão. Demorei para dormir, se Inara não estivesse alí, eu ficaria rolando na cama, mas como eu não queria acordá-la fiquei quietinha. No dia seguinte não me atrasei, acordei cedo e até saí antes da hora, nem falei com Inara, que estava dormindo ainda. Eu não sabia o que ia acontecer , só sabia que era desconfortante. Quando o expediente acabou não fui pra casa, sentei em um ponto de ônibus e fiquei alí, olhando pro nada, pela primeira vez eu não queria voltar pra casa. Fui para o botequim da esquina, fiquei sentada, não tinha grana pra beber nada, mas gostava daquele lugar, um ou dois caras me ofereceram uns drinks, nem aceitei, não estava afim nem de zoar os tarados de plantão. Cansei, fui pra casa. Andei calmamente, como se quisesse apenas andar, sem pressa de chegar a lugar nem um. Subi as escadas, pela primeira vez o elevador não era atraente pra mim. Abri a porta.

- Oi Olga! Você chegou tarde!! Olha aqui, esse é o Cézar. Cézar essa é minha amiga Olga, aquela que te falei, dona do apartamento.

Cézar estava alí, sentado no meu sofá, tomando café e ouvindo uma música suave no rádio. Ele estava alí, bem na minha sala! 

- Muito prazer Olga! 

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