sábado, 14 de setembro de 2013

Capítulo 17

Depois de tanto rir me dei conta da cagada que estava a situação: Eu estava sem emprego, sem grana pra comida, sem grana pro aluguel, nem pros cigarros e nem pra tequila! Levantei atordoada, coçando a cabeça enquanto dizia:

- Puta merda! E agora? Estou fodida! Estou fodidaça!

Inara se levantou, segurou minhas mãos, olhou fundo nos meus olhos e disse:

- ESTAMOS FODIDAS! Ou você esqueceu que estamos nessa juntas? Você me abrigou e me ajudou sem nem me conhecer direito, agora que somos amigas não posso te abandonar.
- E o que você vai fazer? - Eu disse - Você também está desempregada.
- Mas pra tudo se dá um jeito! Você não está sozinha nessa,e daremos um jeito, você vai ver.
- Que jeito Inara? Não há jeito!
- Calma Olguinha! Eu já disse que daremos um jeito, a situação vai melhorar! Agora não é hora de ficar se lamentando, temos que continuar rindo da surra que você deu no Messias! Eu vou buscar meia garrafa de vinho que tem na dispensa, pra comemorarmos!

Inara saiu e logo voltou, trazendo o vinho e as taças, ajoelhou-se diante da mesinha de centro e começou a servir-nos num gesto gracioso e delicado. Depois bateu com a mão em uma das taças, derramando o vinho todo, e como de forma automática, na hora em que o vinho tocou o chão, soltou um sonoro " caralho ", enquanto balançava a cabeça negativamente. Ela saiu para a cozinha e voltou trazendo um guardanapo, e no momento em que olhei Inara alí, abaixada, enxugando o chão, pude ver um pouco de mim dentro do olhar dela, percebi que a convivência comigo, no meu mundo, estava transformando aquela jovem e bela moça em alguém como eu, aos poucos estava virando uma pessoa gélida, com o hábito de chamar palavrões, beber vinho e não se preocupar com nada. Era triste, de fato, era muito triste ver uma alma nova, cheia de esperanças e sonhos ir se diluindo de forma vagarosa e sofrida, desvaindo-se como que sem querer, apenas com o peso de todas as situações da vida, apenas com as inúmeras decepções que vem intercaladas entre amorosas e profissionais. Senti vontade de avisá-la, senti vontade de ajudá-la a se preparar pra tudo isso, mas essa visão me fez lembrar de mim, me fez lembrar de todos os sonhos e desejos perdidos, e nessa linha de pensamento achei que seria interessante ver de perto e prestar atenção nessa transformação de um estado de espírito tão novo até o estado de putrefação total, como o meu. Me mantive calada. Inara levantou a cabeça e sorriu pra mim, serviu o vinho novamente na taça e propôs um brinde:

- Um brinde ao novo tempo que virá! Tim tim!

Sinceramente eu me perguntava se aquilo tudo era real, todo aquele otimismo podia mesmo existir numa situação escrota como essa? E quando essa menina ia acordar pra vida? Mesmo não concordando com a comemoração bebi o vinho, eu não ia deixar de beber só por que não estava de acordo com a situação. Bebemos o vinho e Inara foi se banhar, e eu fiquei alí, pensando no quanto era azarada. Senti algo estranho, uma sensação de vazio chatinha, que veio até meu estômago me fazendo ter enjôos horrorosos! Isso era estranho, já que normalmente eu sou vazia, e isso não me incomoda nem um pouco, acostumei-me com o vazio, nunca havia me incomodado. Algo precisava ser feito. Lembrei do discursso de Inara, fiquei pensando em mim e no quanto eu queria estar trabalhando em uma redação de jornal, ou em uma editora de livros, fazer algo que me deixe feliz, exercer aquilo que me conforta, sem tortura alguma. Aquilo era o que eu queria de verdade! Me deu vontade de sonhar de novo, eu queria me empenhar novamente naquilo que me trazia o sentimento de felicidade. Como que num estalo repentino dei um pulo do sofá e decidi: Eu ia voltar a escrever meus contos e enviá-los a todas as editoras conhecidas! Eu precisava mesmo de um emprego, por que não um emprego que fosse do meu agrado? Fui dormir, eu precisava estar descançada pra ir em busca do que havia decidido. Fui pra cama e quando já ia adormecendo a campainha tocou. Inara entrou no quarto, toda molhada enrolada na toalha me pedindo para atender a porta pra ela, pois ia se trocar. Eu fui, e para a minha surpresa era Cézar! Como fui tão idiota a ponto de não perceber que seria ele? Fui vaga na nossa curta conversa:

- Oi Olga, Inara está?
- Está! Entre, ela está se trocando, já fala com você.

Ele entrou.

- Senta - eu disse - fica à vontade.

Fui andando pro banheiro, e Cézar foi logo me dizendo:

- Porque você não me faz companhia enquanto Inara não chega?

Aquilo era o fim cara, eu não queria ficar alí. Mas se não ficasse, pareceria o que? Que estava com raiva ainda pelo que aconteceu na minha cama? Que eu estava louca de amor por ele e por isso enciumada por ele estar alí procurando Inara? Pareceria uma porção de coisas, e o mais foda nisso tudo é que todas as alternativas estariam corretas. Fiquei. Cézar me olhou e começou seu discurso de arrependido:

- Sei que não respeitei sua casa e sua cama, me arrependo muito de ter feito o que fiz aqui.
- E porque tanto arrependimento? Não foi bom? - Perguntei com o ar de irônica.
- Claro que foi! O problema é que foi onde não devia ter sido! Fui um idiota usando seu quarto pra fazer o que eu queria. Gostaria que você soubesse que nada foi premeditado, quando vimos já estávamos pelados na cama, e você já estava abrindo a porta do quarto, foi tudo muito rápido. Me desculpe Olga, de coração!

Balancei a cabeça positivamente, Cézar segurou minha mão e nossos olhos se encontraram , ele estava seguro do que dizia, seu olhar não deixava dúvidas sobre isso. De certa forma aquele momento foi mágico, vi com clareza o rosto limpo de Cézar, vi suas imperfeições minúsculas, seus cílios balançando calmamente pra cima e pra baixo enquanto piscava, seu cabelo muito bem arrumado. O cara era lindo! Logo Inara saiu do quarto, se maldizendo por que havia engordado um pouco e sua saia a apertava na altura da cintura, Cézar soltou da minha mão e foi ao encontro dela lhe dizendo que estava linda como sempre. Se abraçaram. Senti uma inveja chata, uma vontadezinha de estar no lugar dela, incomodova vê-la conseguindo aquilo que eu queria. Eu dei adeus aos dois, disse estar cansada e querendo dormir, era dia mas eu tinha sono. Saí para o quarto enquanto os dois ficaram lá, depois de um tempo ouvi o som da porta batendo, foram curtir essa fase de amorzinho em algum lugar. Sei lá.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Capítulo 16

Acordei assustada, sem saber ao certo o por que! Levantei e vi que já passava da hora de ir trabalhar. Arrumei-me rapidamente, apesar de toda a chatiação do fim de semana, eu precisava trabalhar. Nem sinal de Inara pela casa, deve ter dormido em companhia do Cézar, certamente na casa dele. Quem liga? (Eu) !Dessa vez o elevador não me parecia atraente, desci as escadas quase correndo, na verdade fiz o caminho todo até a lanchonete quase correndo, ainda sim cheguei super atrasada. Messias estava atrás do balcão, quando passei por ele, fez uma cara amarrada para que eu pudesse perceber o quanto estava irritado pelo meu atraso. E não era só isso! Ele me seguiu até o vestiário, bateu a porta do meu armário com força e disse:

 - Quem você pensa que é ?

Fiquei sem reação, não tinha entendido qual era o propósito dele com aquela pergunta. E ele continuou falando.

- Você não me responde por que nem mesmo sabe a resposta. Você não pensa que é alguém, por que sabe que não é ninguém! E aqui dentro não é diferente, vive chegando atrasada como se fosse alguém importante, pensa que pode fazer o que quer, mas não pode! Aqui você não é ninguém!
- Vem cá, por que todo esse xilique ?- Perguntei -  Papai não deu a mesada foi ?
- Olga, essa foi a última vez que você me desrespeitou! Isso acaba hoje! Você está demitida!
- E você pensa que é quem para me demitir? Você não é dono deste lugar!
- Meu pai concorda com isso! Ele me deu carta branca para demitir você! Até mesmo um cara bacana como o meu pai se cansa de deslizes feito os seus!
- Você mente!
- Se não acredita, vá até o escritório dele e tire a prova! Estarei aqui mesmo, com seu pagamento da semana nas mãos.

Então era isso, eu estava sendo demitida! Mas sinceramente? Eu não me espantei muito! Afinal de contas, essa era a semana da merda, tudo de ruim ia me acontecer mesmo! Novamente peguei minha bolsa e fui até o escritório do Senhor Alberto, dei três batidas na porta, e entrei. O Senhor alberto falava ao telefone, fez sinal com uma das mãos para que eu me sentasse na cadeira a sua frente, quando terminou a ligação me olhou com um ar de chatiação, daí logo percebi que realmente estava sendo demitida. Tivemos nossa conversa de consolo.

- Olga, você me deixou sem ter o que fazer.
- Eu?
- Sim! Que exemplo eu posso dar aos funcionários se deixo você decidir seus horários aqui dentro?
- Não pense que não entendo o seu lado Senhor, talvez se eu estivesse em seu lugar teria feito o mesmo.
- Não gosto de demitir meus funcionários, prefiro ir me adaptando aos defeitos deles, e ir aproveitando suas qualidades, é muito melhor, menos constrangedor.
 - Não me sinto constrangida, sei que mereci isso.
- Não precisa ser tão dura consigo mesma. Esse tipo de coisa acontece.
- É, acontece.
- Sinto muito Olga.
- Eu também Senhor Alberto.

Dito isso, saí do escritório, só conseguia pensar no que ia fazer pra conseguir me sustentar. Fui até o vestiário, pegar minhas coisas no armário, e lá estava Messias, me esperando com aquele sorriso de satisfação. Me entregou o envelope com o dinheiro e disse que ia me acompanhar até a porta. Assim que cruzamos a porta de vidro da lanchonete Messias passou a mão no meu traseiro dizendo:

- Pena que não vou mais ver essa bundinha deliciosa desfilando pelo salão.

 Virei-me com fúria, dando uma bolsada bem na nuca daquele verme. Ele cambaleou e eu o empurrei, assim que caiu no chão eu o chutei e depois sentei em cima dele, batendo primeiro com as mãos abertas, depois fechei os punhos e dei socos por toda a cara daquele nojento. Os funcionários da lanchonete enlouqueceram de felicidade, eu estava lavando a alma de todo mundo que trabalhava alí. Senhor Alberto veio correndo me tirar de cima do filho dele, que a essa altura já estava com a cara toda ensanguentada.

 - O que há Olga ? Você enlouqueceu ? - Perguntou o Senhor Alberto, enquanto me segurava pelos braços.
- Ele passou a mão em mim! Seu filho é um porco maldito que assedia a todas as suas funcionárias! O que fiz foi pouco, diante do que ele realmente merece!

 Messias sentou no chão, limpando o rosto com a camisa, cuspia sangue. Eu me debatia nas mãos do Senhor Alberto, para que ele me soltasse.

- Me solta, eu quero ir embora, se ficar aqui olhando pra cara desse filho da puta vou partir pra cima dele de novo!

 Senhor Alberto me soltou, peguei minha bolsa e segui andando enquanto Messias gritava:

- Você vai pagar por isso sua vadiazinha! Isso não vai ficar assim, mulher nem uma me humilha dessa maneira, você ouviu? Você vai se arrepender por isso, sua putinha barata!

Pareceu até engraçado pra mim, mesmo ele me fazendo tantos xingamentos era engraçado! Nada ia me abalar, eu tinha quebrado a cara daquele maldito, mesmo sendo demitida, tinha ganhado o meu dia apenas com aquilo. Comecei a ter pensamentos positivos, eu podia sair daquela situação vendo as coisas de outra forma, eu poderia encontrar outro lugar pra trabalhar, poderia trabalhar num ambiente mais descente que aquele, onde não precisasse conviver com gente como Messias, poderia até ganhar mais grana do que ganhava na lanchonete, era só uma questão de esforço. Até lá, teria que economizar, mas daria certo! Eu sempre me virei sozinha, nunca tive medo, eu não ia me abalar depois de tanta coisa que já passei. Eu só queria ir pra casa. Inara estava sentada no sofá da sala, lendo um jornal, entrei e fui logo contando as novidades. Ela gargalhou, ficava repetindo " não acredito que você fez isso " a todo o instante. E ficamos rindo e conversando sobre o que tinha acontecido por um longo tempo, pela primeira vez em uma semana eu estava de bom humor.