quinta-feira, 31 de maio de 2012

Capítulo 9

Inara ficou alí, me olhando com um meio sorriso, esperando que eu desse os números de telefone, mas como eu ia fazer isso? Eu estava com receio, não sabia o que ela iria dizer, e não sabia ao certo se era aquilo mesmo que eu queria. Droga.

- Olga, você precisa me dizer o número pra que eu possa ligar. O quê que há?

Não respondi. Inara colocou o telefone no gancho novamente e virou-se calmamente pro meu lado, me olhou no fundo dos olhos, como se estivesse entrando na minha cabeça, respirou fundo e segurou minha mão.

- Olga querida - disse ela -  hoje você me fez tomar uma decisão fundamental , então por que tanto nervosismo por causa de um simples telefonema? Como é que você é tão corajosa pra tomar decisões tão importantes, e tão medrosa pra fazer uma coisa tão simples dessa?

Pensei melhor, ela tinha razão, por que não deixar que ela ligasse? Afinal de contas era ela quem ia falar, e não eu. Soltei a mão de Inara e puxei a caixinha, quando coloquei em cima da minha perna fui logo abrindo, pra não dar tempo de me arrepender por nada. Os números estavam alí, no papelzinho pequeno, tirei e olhei, abri a boca pra dizer algo, e o que saiu foi :

- disca aí: 555-2146 

.Inara sorriu, discou, esperou com o telefone no ouvido, 15 segundos e nada. Desligou. Tentou de novo, nada. Pegou o papel da minha mão, discou o outro número, de repente fez uma cara de espanto, logo em seguida iniciou uma conversa em que eu só ouvia o que ela dizia, claro! Afinal quem estava com o telefone no ouvido era ela.

- Alô? ... Oi, meu nome é Inara , e o seu? ... Sim, acontece que, espera um momentinho. Olga - disse Inara, colocando a mão no microfone do telefone - devo me passar por você? Dizer que quem achou a caixa foi uma amiga minha?
- Diga que foi você quem achou.
- Certeza?
- ... Sim .

Voltando a pôr o telefone no ouvido Inara disse:

- Acontece que eu encontrei uma caixa com dois números de telefone e uma fotografia, achei bom ligar pra saber quem é o dono e poder devolvê-la, é você? ... Ótimo! Muito bom. Então o seu nome é qual? ... Bom Cezar, como eu disse me chamo Inara, e gostaria de devolver a sua caixinha, o que me diz? ... Calma, calma, o que eu poderia fazer de ruim contra você? Se fosse um golpe como eu saberia da existência da caixa? Só quero devolvê-la, juro! ... Ok, vou anotar, um momento.

Virou-se para mim fazendo gestos com as mãos, entendi que Inara queria papel e caneta, rapidamente entreguei a ela , que mais rapidamente ainda anotou o endereço do local marcado e finalizou a ligação com um '' Te encontro às 17:00 hrs, amanhã, estarei de vestido vermelho, até mais " . Desligou. Estava tudo feito, eu finalmente ia ver o rosto do bailarino tão bonito, finalmente. Já estava imaginando o tom da pele, a maciez dos cabelos e a cor dos olhos, estava sonhando feito adolescente de novo, mas espera aí, PUF, meus pensamentos foram interrompidos pelo som da voz de Inara me perguntando:

- Olga, você vai ou eu vou? Afinal de contas se você decidir ir, vai ter que dizer que seu nome é Inara,não é mesmo?

Ela tinha razão, o bailarino ( de nome Cezar ) achava que a pessoa que tinha encontrado a caixa era ela, e não eu, no caso, quem iria ao local seria ela, e eu ficaria de fora disso. Tudo bem, olho pra ele de longe, e depois, se Inara aceitasse, podia até me apresentar a ele, não é mesmo? Decidimos tudo, Inara iria até ele, e eu ficaria observando de longe, ficaria tudo bem, se eu fosse no lugar dela, ia ficar nervosa, ia acabar dizendo bobagens, resumindo: ia dar merda! Logo após combinarmos tudo, Inara deu um bocejo demorado e ficou se esticando toda, percebi que estava exausta, e já eram mais de 23:00 horas. Eu não tinha outra cama, nem colchonete, nem nada, a mocinha teve que se ajeitar do meu lado na cama, por mim não tinha problema algum, e pelo que vi, por ela também não.- Boa noite Olga, amanhã será um novo dia, com novos acontecimentos e novas coisas pra vivenciar.E dizendo isso, Inara fechou os olhos e virou-se, eu fiquei alí acordada, pensando no bailarino Cézar, no quanto gostaria de poder falar com ele, pensando em como eu gostaria de olhar bem fundo nos olhos dele, eu sei, mais uma vez pareço uma pré-adolescente pensando no cara ideal, mas isso era por que eu nunca tinha visto um rapaz tão bonito e bem afeiçoado. Dormir pensando nele, era a melhor parte do dia que tinha se acabado, e pelo que eu estava vendo, não tinha acabado tão ruim assim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Capítulo 8

- Eu achei melhor não falar com você quando saí da lanchonete, então te segui até a sua casa.

Inara soltou esse argumento e depois me olhou como se dissesse '' e ai? Não vai me convidar pra entrar? ''. Abri a porta e deixei um longo espaço para que ela pudesse passar, na verdade eu estava paralisada, não disse nada por estar perplexa demais com a presença daquela moça em minha casa. Inara entrou, foi direto pro sofá, sentou e colocou a bolsa sobre as pernas, eu esperei 4 segundos e fechei a porta, sentei-me ao seu lado e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a menina foi jogando uma torrente de problemas em cima de mim.

- Olga, estou passando por uma série de coisas, e te confesso que não tenho ninguém por mim, nunca pensei que abriria meu coração para alguém, mas estou aqui sentada de frente com você, querendo te contar todo o dilema da minha vida, e até esse exato momento ainda não me arrependi de ter vindo até aqui. Messias tem me chantageado, me faz dormir com ele , e fica dizendo que se eu não o fizer, me manda embora. Não tenho pra onde ir Olga, não tenho mais como me sustentar, aquele emprego é o que me mantém no meu pequeno apartamento, mesmo com aquele salário a vida anda complicada, imagina você, se ele me dispensar, o que vou fazer? Pra onde eu vou? Mas me cansei das chantagens , acho o Messias um ser repugnante, preciso de ajuda para sair dessa, preciso de você Olga, só você pode me dizer o que fazer e como agir, preciso da sua ajuda.

-Inara, me sinto até confusa com essa sua atitude de vir até aqui me contar tudo isso, mas sinceramente não sei no que posso te ajudar. Eu também trabalho alí, também vivo à mercê daquele porco maldito, dependo dalí, o que acha que posso fazer por você? 
- Não quero mais ficar alí Olga, não consigo mais estar no mesmo ambiente que aquele maldito, mas não sei o que fazer, preciso dar o fora, mas preciso da grana pra viver, se eu sair daquele emprego não terei pra onde ir, o aluguel está atrasado e eu não tenho comido muito bem. Preciso de ajuda...

Eu sinceramente, não sabia o que dizer, aquilo estava insustentável. Olhei aquela moça tão angustiada, esperando uma solução vinda de mim, de mim ... Eu tinha que fazer algo, e não por ela, mas por mim, para não me sentir uma fracassada novamente, ao menos para ajudar uma pobre moça eu tinha que servir.

- Peça demissão!

Inara me olhou com o ar de espanto , depois se levantou e foi até a janela entre aberta, eu não tinha nada para dizer, me senti mal por isso, ficamos alí, em total silêncio, ela esperando que eu dissesse algo que lhe causasse conforto, e eu esperando que ela fosse embora. Até que me passou pela cabeça uma ideia meio maluca, já que eu não tinha o que dizer, e a situação estava insustentável, decidi tomar uma decisão desesperada para cortar aquele clima azedo :
- Inara, peça demissão e fique aqui comigo até que sua vida seja resolvida.
Ela me olhou com uma certa dúvida, como se quisesse ter plena certeza de que eu falava a verdade, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa me levantei e fui até o cabide, peguei meu casaco e a convidei :

- Vamos?
- Pra onde iremos? Perguntou a moça , ainda assustada.
- Vamos pra sua casa ué, suas coisas não vão se teletransportar pra cá não é?

Ela riu, e pegou a bolsa de cima do sofá, fomos juntas até a sua casa, que não era nada perto, andamos, conversamos, até descobri que Inara fumava, na verdade, foi muito boa nossa conversa, uma conversa tranquila. Entramos no apartamento dela e eu a ajudei a arrumar uma mochila pequena, com poucas coisas. " É só pra essa noite, amanhã volto e pego as outras coisas ", justificou ela. Saímos. Ao chegarmos em casa , Inara sentou-se no sofá e ficou olhando para o chão, com um ar de tranquilidade inigualável, gostei daquilo, fui até o quarto e vi a caixinha em cima da cama, peguei e levei para a sala, disposta a contar tudo para Inara. Contei. Esperei para ver o que ela diria.

- Por que nós não ligamos agora? Sugeriu a moçoila.
- Hã? Não não Inara, eu ainda não tive essa coragem ...
- Eu ligo! 

Retrucou a menina maluca, pegando o telefone e se debruçando no sofá.

- Qual é o número? 

" Puta merda " , pensei .

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Capítulo 7

Saí do prédio, e vi aquelas pessoas nas janelas do mesmo , trabalhando, correndo de um lado para o outro, sempre muito ocupadas, pensando no pagamento do final de mês! Olhei para as minha mãos, e as vi suadas,levante a cabeça e olhei para o céu! Pássaros! Que lindos, voando livres! Cheios de vida! Olhei novamente para o prédio e me senti honrada por não estar alí, sendo infeliz, me matando de tanto trabalhar e sem tempo para gastar a miséria que ganharia num lugar como aquele! Tendo que ser quem eu não sou, pra ganhar um dinheiro de merda, que nunca me traria aquilo que mais me fazia falta : Felicidade! Cuspi no chão, e saí caminhando , sem olhar pra trás. Apesar de ser bastante contraditório com tudo o que eu sempre desejei , foi dessa maneira que eu me senti. Eu já não tinha mais nem o dinheiro da tequila, de qualquer forma não podia beber, ainda ia ter que voltar para o trabalho. Resolvi andar mais, nada de ônibus, andar e pensar sempre é bom. No caminho para a lanchonete pensei em várias coisas, até que meu leve pensamento chegou na minha caixinha, por que me preocupar tanto com essa porra de editora? Se me quiserem será ótimo, se não quiserem azar o deles ... bem, na verdade é azar meu, mas não quero pensar assim agora. Cheguei na lanchonete e fui logo vestindo meu uniforme, Messias me olhava de canto de olho, doido pra me infernizar, mas com seu Alberto alí não podia nem pensar em fazer isso. Entrei no vestiário pra guardar minha bolsa e vi Inara sentadinha no banco soluçando e enxugando as lágrimas com o avental, por um momento fiquei me questionando do que eu deveria fazer por aquela menina tão triste, percebi: nada. Sentei-me ao lado dela e segurei sua mão gelada e molhada, ela me olhou e eu iniciei uma conversa que não fazia idéia de onde ia parar.

- O que há, Inara?

- Olga ... eu ... nada não.

Me levantei para sair do vestiário, e dei dois passos, o soluço de Inara me paralisou e decidi voltar e sentar novamente, sentei e fiz uma sugestão que nem eu mesma esperava:

- Podemos conversar quando acabar o expediente?  

Inara me olhou e balançou a cabeça vagarosamente , fazendo sinal de afirmação. Quando saí do vestiário percebi que tinha feito uma grande cagada, o que eu ia dizer para aquela moça? Quem sou eu para querer aconselhar outras pessoas? Puta merda, esqueci completamente do que já tinha planejado para aquela noite, o bar do Bill... Ah é, não tinha grana para beber mais durante a semana. Então seria isso mesmo, ouviria o que Inara iria me dizer, e depois só Deus sabe. 
Ao fim do expediente não vi Inara, olhei no vestiário e no banheiro e ela não estava. Não fiz tanta questão de procurar, não tinha nada para dizer aquela moça chorosa. Saí e segui para minha casa. No caminho lembrei da minha caixinha, oh sim! Minha caixinha de madeira, com os números e a fotografia, com tantas coisas acontecendo esqueci completamente do mistério da pequena caixa. Ao chegar em casa subi bem apressada, sem olhar para os lados, para não ter a infelicidade de que alguém viesse me cumprimentar e assim me fizesse perder tempo. Cheguei no meu apartamento jogando a bolsa no chão e indo direto para o quarto, procurando a caixa em baixo da cama, quando coloquei as mãos na caixa, ergui os olhos em direção a cabeceira da cama e vi a foto do bailarino,então a vontade de ligar para os números de telefone aumentou, segurei a caixa com força contra o peito e caminhei até a sala, disquei o primeiro número e assim que o sinal de chamada tocou , a minha campainha também tocou, não acreditei que mais uma vez eu estava sendo interrompida. Abri a porta com uma expressão bem irritada, mas quando olhei quem estava na porta, minha expressão mudou completamente, virou espanto total:

- Inara? O que faz aqui?