sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Capítulo 5


Bill me acordou, porque adormeci encostada sobre o balcão com o copo de tequila vazio na mão. Nem uma novidade até aí, já que isso acontecia com frequência, as pessoas que freqüentavam o botequim da esquina já estavam acostumadas a isso. Meu caminho para a casa foi como todas as vezes, zig-zagueando pela rua. Entrei em minha casa quase rastejando, mas antes de dormir, peguei a caixa marrom que guardei em baixo da cama e novamente olhei para a fotografia do belo rapaz bailarino, o papel com os números de telefone que guardei no bolso voltou para a caixinha, no lugar da foto, que coloquei na cabeceira da cama, para poder olhar para aquele rosto tão formoso todos os dias. “ Muito bem sono, você me venceu, seu puto! “ Pensei, em quanto guardava a caixa no lugar, deitei e dormi. Altas horas da madrugada, acordei-me completamente enjoada, a tequila estava revirando no meu estômago! Corri para o banheiro e despejei-a toda na pia, aquele cheiro de álcool tomou conta do banheiro todo! Argh! Meu enjôo piorou pra porra! Enchi a boca de anti-céptico bucal e saí rápido dalí, sentei no sofá, e quando encostei a cabeça na almofada vi um envelope amarelo no chão, perto da porta. Na certa, quando entrei não o percebi alí. Levantei e peguei-o , abri e vi que era um convite de uma editora de livros para uma entrevista. Minha emoção foi tão grotesca que cuspi todo o anti-céptico no espelho da entrada. Cara, a ressaca da tequila não era nada comparada a felicidade que senti naquele momento. Li atentamente o papel, falava sobre um conto que eu havia enviado 4 meses antes. Minha entrevista seria no dia seguinte, por volta das 11:00 hrs da manhã. Olhei para o relógio e vi que já eram 4:46 hrs. “ Porra! Vou acordar feito um saco de bosta! “ Eu pensei. Coloquei cuidadosamente o papel sobre a mesa, e voltei pra cama, a muito tempo que eu não tinha essa sensação dAe esperança, adormeci tão rápido, quanto criança. No dia seguinte não havia ressaca, nem mal-humor, nem desânimo e nem nada do tipo. Cheguei na lanchonete sorridente e serena, como nunca acontecera. Isso causou espanto, tanto nos funcionários da lanchonete, quanto nos clientes, que sempre me viram de cara dura ou cara de ressaca. Eu até sorri ao passar pela porta de entrada. Parecia que aquele dia era o melhor dia da minha vida,porque até o porco do Messias não estava no comando, e sim o Senhor Alberto, assim eu poderia pedir para sair mais cedo para o almoço e depois voltar, até faria hora extra se fosse o caso. Ele me permitiu sair, e eu nem precisaria fazer a bendita hora extra, coisa que o maldito Messias nunca deixaria. Ora! Tudo estava como eu queria, até levei batom dentro da bolsa. As 10:00 horas da manhã eu fui até o banheiro, arrumei o cabelo e passei o batom, saí e me despedi do Senhor Alberto. Tirei o envelope da bolsa para olhar o endereço, não era tão longe, mas a pé não tinha como ir. O primeiro ônibus que passou não era o meu, e eu já começava a suar , eu não podia me atrasar,olhei para o lado e vi duas velhas mendigas brigando por causa de um pedaço de pão velho, não era nada de mais, mas fiquei olhando. Resultado: me distrai demais, perdi a porra do ônibus. É, sou assim mesmo, muito azarada. Abri a carteira pra ver quanto de grana ainda me restava, o dinheiro daria pra um taxi, mas eu ia ficar o resto da semana sem um puto pro meu uísque. Olhei no relógio, 10: 36 hrs. Não ia dar tempo de esperar a próxima condução, fui de táxi. Sentei no banco da frente, percebi que o motorista não parava de olhar para as minhas pernas, irritante isso. Em um certo ponto, ele puxou conversa:
- Dia bonito não é?
- Aham.
- Dia bonito pra ir trabalhar.
Deveria estar tentando saber pra onde eu ia, uma indireta dessas não é a toa.
- É, belo dia para trabalhar.
- Senhorita.. você é senhorita não é ?
Agora queria saber se eu era casada, puta merda.
- Sou senhorita. Mas prefiro o bom e velho “ você “.
- Imaginei que seria senhorita, mas não é correto uma senhorita de respeito sentar no banco da frente de um táxi com um desconhecido, não é?
- Cala a boca e dirige a porra do carro.
- O quê moça?
- Nada não.
Não sei se ele ouviu, sei que virou-se e continuou dirigindo, como se eu não estivesse alí, só o meu par de pernas. Em frente ao prédio da editora, paguei o motorista e desci do carro, assim que me vi do lado de fora, olhei bem para a cara daquele escroto,sorri, e quando ele sorriu de volta mostrei um enorme ‘dedo do meio ‘ pra ele. É, me senti realizada, agora poderia entrar no prédio com a confiança de que precisava. Passei pela porta e vi uma secretariazinha de casaco vermelho, muito bem maquiada e de cabelo incrivelmente arrumado. Uma pontinha de inveja no peito, tudo bem.