terça-feira, 2 de agosto de 2011

Capítulo 4 .

O dia seguinte seria como todos os outros, se não fosse pelo meu achado da noite anterior. Meu banho foi rápido, e o elevador não chegava, as escadas foram minhas salvadoras para a meia hora de atraso que eu tinha. Quando cheguei na lanchonete, não recebi bronca, nem olhares tortos, o lugar estava quase sem clientes, como de costume. Eu até que gostava de não trabalhar em um lugar que não fosse muito freqüentado, os poucos clientes mal-educados já me bastavam. Meu patrão, o senhor Alberto, nunca estava presente, mas seu filho, Messias, era o gerente e a lanchonete ficava em suas mãos. Messias era um porco arrogante, que assediava clientes e empregadas. Nunca dei muita bola para o que ele falava, as outras mocinhas que trabalhavam comigo tremiam de medo quando ele se aproximava, abaixavam as cabeças e tentavam disfarçar o temor. Tudo em vão! Aquele cachorro no cio sentia o cheiro do medo delas. Eu sempre respondia atravessado pra ele, toda a vez que vinha com suas cantadas de quinta! Naquele dia nem as cantadas de Messias estavam me importando, o conteúdo da pequena caixinha era o único assunto que ocupava minha mente. Assim que tive a chance, corri para a cozinha da lanchonete e disquei um dos números do papel. Não sabia ao certo o que ia dizer, agi por puro impulso. Assim que atenderam o telefone, me senti estranha, uma sensação de tremedeira tomou conta do meu corpo, tive a impressão que da minha garganta saíam borboletas, senti o pescoço pesado, acho que era arrependimento, como eu vou saber? Nunca tive essa sensação antes.
- Alô!?
Fiquei muda.
- Alô?! Alô?
Desliguei. Simplesmente não consegui falar nada, então achei melhor desligar, aliás, o que eu ia dizer? Seria burrice continuar com essa historia absurda de ligar e falar com alguém que eu não conheço. Amassei o papel e mirei na lata de lixo, mas por algum motivo que ainda não sei explicar, não joguei o papel na lata, enfiei o papel no bolso. A voz do outro lado da linha não saía da minha cabeça, uma voz masculina, era um timbre bonito e doce, que soava em mim como um eco. Por um momento me vi na adolescência, sonhando com um cara que nunca vi na vida,apenas por foto, imaginando que tipos de aventuras eu poderia viver ao lado dele, escrevendo uma história que ainda não tinha acontecido e que talvez nem viesse a acontecer, ao lado do tal cara da fotografia, o cara que dança balé. Caminhei em direção ao meu velho balcão, onde pensava e repensava nas mesmas coisas todos os dias, mas dessa vez, eu voltava pra lá, com outros pensamentos, outros interesses e outras perguntas sem respostas. Foi quando aquele maldito Messias se aproximou de mim e fez mais um de seus xavecos insuportáveis:
- E não é que hoje você parece até mais moça Olga.
- Não seja ridículo, deixei de ser moça a muito tempo.
- Isso é bom ...
- Bom pra quem? Só se for pro cara que ficou entre minhas pernas aquele dia.
Messias ficou ali parado, enquanto eu me afastada para ir até a mesa de um dos clientes que me chamara. Quando voltei, o desgraçado me disse:
- Escuta aqui Olga, você me desrespeitou por muito tempo, acho que está na hora de você saber quem manda aqui e a quem você deve respeito.
- Ora, vamos Messias!
- Você deveria pegar algumas dicas de como se deve tratar o chefe com Inara .
E saiu pela porta de vidro que ficava na entrada da lanchonete. Pude vê-lo acendendo seu cigarro e caminhando em direção ao carro. Olhei para trás e vi Inara, uma moça jovem, loira de olhos escuros, que mais pareciam duas jabuticabas, sua pele era branca e sedosa, seus dentes eram tão brancos, que quando sorria era como se o sol invadisse o lugar. Moça mais bonita que ela, nunca vi. Porque será que Messias havia feito tal comentário sobre ela? E reparando bem, lembrei-me que Inara não era mais a mesma, não sorria mais com frequência, não conversava com as outras mocinhas da lanchonete, muito menos com os clientes. Por um momento, veio-me um pensamento, que achei tão repugnante, a ponto de nem querer mais tê-lo em minha cabeça: “ Será que algo aconteceu entre Messias e Inara? Será que aquele bandido sujo fez algo a essa pobre moça? “ . Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do sino que marcava o fim do expediente, saí correndo do trabalho, em direção ao Botequim da esquina, uns drinks para tirar pensamentos porcos da cabeça.