sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Capítulo 6

A secretária do lugar me olhou sorrindo e perguntou o que eu desejava, eu sorri de volta e disse que havia recebido uma carta, e tinha uma entrevista marcada. A secretária, me conduziu até uma outra sala e disse:
- Muito bem , senhora... ?
- Olga,senhorita Olga Ferraz.
- Senhorita Olga,eu me chamo Clara. Aguarde aqui , já já a senhorita será chamada. Se precisar de algo, estarei na sala ao lado. Boa sorte.
Meu coração estava tão acelerado que não tive a reação de agradecer pelo “ boa sorte “ . Clara saiu e eu fiquei alí sentada, aguardando o momento crucial pra mim. Olhei bem para o lugar e vi como era charmoso o ambiente,as poltronas vermelhas e as lâmpadas incandescentes meio amareladas davam um maravilhoso ar de mistério. Talvez fosse o propósito do decorador. Não fiquei alí nem por 20 minutos, Clara abriu a porta pedindo desculpas pela demora, e disse que me aguardavam no andar de cima. Levantei da poltrona meio desconcertada, aquilo tudo não parecia estar acontecendo de verdade. Ao entrar no elevador  pensei em quantas vezes eu havia sonhado com aquilo, em quantas vezes eu quis pensar que tinha alguém me esperando pra falar sobre meus contos. Era bom, era muito bom. Ao sair do elevador pude ver em uma sala de porta entreaberta, um senhor muito calvo, sentado de frente para um aquário muito grande, observando cada movimento dos peixes que alí estavam. Assim que me viu em pé, atrás da porta, o homem fez sinal com uma das mãos para que eu entrasse, e assim o fiz. Demos um aperto de mãos rápido, o homem mal me olho na cara, sentou e começou com seu interrogatório:
- Com que frequência você escreve seus livros ?
- Não escrevo muito ... Não sei ao certo!
- Como não sabe ?
- Não sabendo ué ...

Um breve momento de silêncio.

- Senhorita Olga, seu conto muito me inspira viu?
- Lhe inspira? Mas exatamente a quê?
- Isso é algo muito íntimo, acredito que não tenho por que contar a você. Vamos voltar ao que
nos interessa, você costuma registrar seus contos em cartório?
- Não , eu ...
- Não? Mas senhorita Olga, seu conto é bom, você deveria registrar para que nem um vigarista viesse a roubar suas idéias.
- Estou bem assim senhor ...
- Oh, claro, me chamo Carlos.
- Senhor Carlos! Quando a isso ,acredito que o senhor não deve se preocupar, ninguém se importa muito com meus contos.
- De fato, acredito que seja mesmo um problema seu. Então nós entraremos em contato. Foi bom conhecê-la.
- Só isso?
- Acho que não entendi ...
- Então eu volto pra casa e fico esperando que me liguem ?
- Basicamente é isso.

E assim, o senhor Carlos permaneceu me olhando seriamente, depois de uns 6 segundos me olhando, ergueu as sombra celhas como se dissesse: “ E então? Vai ficar aí parada? “. Percebi que estava fazendo papel de idiota, continuando alí sentada, então levantei e saí da sala. Caminhei meio perplexa por conta da situação, como assim eu tinha que esperar até me ligarem? Por que não poderiam me dar uma resposta? Já não tinham analisado o conto e por isso que me ligaram? Realmente eu não ia mais me preocupar, talvez fosse charminho. Que se dane.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Capítulo 5


Bill me acordou, porque adormeci encostada sobre o balcão com o copo de tequila vazio na mão. Nem uma novidade até aí, já que isso acontecia com frequência, as pessoas que freqüentavam o botequim da esquina já estavam acostumadas a isso. Meu caminho para a casa foi como todas as vezes, zig-zagueando pela rua. Entrei em minha casa quase rastejando, mas antes de dormir, peguei a caixa marrom que guardei em baixo da cama e novamente olhei para a fotografia do belo rapaz bailarino, o papel com os números de telefone que guardei no bolso voltou para a caixinha, no lugar da foto, que coloquei na cabeceira da cama, para poder olhar para aquele rosto tão formoso todos os dias. “ Muito bem sono, você me venceu, seu puto! “ Pensei, em quanto guardava a caixa no lugar, deitei e dormi. Altas horas da madrugada, acordei-me completamente enjoada, a tequila estava revirando no meu estômago! Corri para o banheiro e despejei-a toda na pia, aquele cheiro de álcool tomou conta do banheiro todo! Argh! Meu enjôo piorou pra porra! Enchi a boca de anti-céptico bucal e saí rápido dalí, sentei no sofá, e quando encostei a cabeça na almofada vi um envelope amarelo no chão, perto da porta. Na certa, quando entrei não o percebi alí. Levantei e peguei-o , abri e vi que era um convite de uma editora de livros para uma entrevista. Minha emoção foi tão grotesca que cuspi todo o anti-céptico no espelho da entrada. Cara, a ressaca da tequila não era nada comparada a felicidade que senti naquele momento. Li atentamente o papel, falava sobre um conto que eu havia enviado 4 meses antes. Minha entrevista seria no dia seguinte, por volta das 11:00 hrs da manhã. Olhei para o relógio e vi que já eram 4:46 hrs. “ Porra! Vou acordar feito um saco de bosta! “ Eu pensei. Coloquei cuidadosamente o papel sobre a mesa, e voltei pra cama, a muito tempo que eu não tinha essa sensação dAe esperança, adormeci tão rápido, quanto criança. No dia seguinte não havia ressaca, nem mal-humor, nem desânimo e nem nada do tipo. Cheguei na lanchonete sorridente e serena, como nunca acontecera. Isso causou espanto, tanto nos funcionários da lanchonete, quanto nos clientes, que sempre me viram de cara dura ou cara de ressaca. Eu até sorri ao passar pela porta de entrada. Parecia que aquele dia era o melhor dia da minha vida,porque até o porco do Messias não estava no comando, e sim o Senhor Alberto, assim eu poderia pedir para sair mais cedo para o almoço e depois voltar, até faria hora extra se fosse o caso. Ele me permitiu sair, e eu nem precisaria fazer a bendita hora extra, coisa que o maldito Messias nunca deixaria. Ora! Tudo estava como eu queria, até levei batom dentro da bolsa. As 10:00 horas da manhã eu fui até o banheiro, arrumei o cabelo e passei o batom, saí e me despedi do Senhor Alberto. Tirei o envelope da bolsa para olhar o endereço, não era tão longe, mas a pé não tinha como ir. O primeiro ônibus que passou não era o meu, e eu já começava a suar , eu não podia me atrasar,olhei para o lado e vi duas velhas mendigas brigando por causa de um pedaço de pão velho, não era nada de mais, mas fiquei olhando. Resultado: me distrai demais, perdi a porra do ônibus. É, sou assim mesmo, muito azarada. Abri a carteira pra ver quanto de grana ainda me restava, o dinheiro daria pra um taxi, mas eu ia ficar o resto da semana sem um puto pro meu uísque. Olhei no relógio, 10: 36 hrs. Não ia dar tempo de esperar a próxima condução, fui de táxi. Sentei no banco da frente, percebi que o motorista não parava de olhar para as minhas pernas, irritante isso. Em um certo ponto, ele puxou conversa:
- Dia bonito não é?
- Aham.
- Dia bonito pra ir trabalhar.
Deveria estar tentando saber pra onde eu ia, uma indireta dessas não é a toa.
- É, belo dia para trabalhar.
- Senhorita.. você é senhorita não é ?
Agora queria saber se eu era casada, puta merda.
- Sou senhorita. Mas prefiro o bom e velho “ você “.
- Imaginei que seria senhorita, mas não é correto uma senhorita de respeito sentar no banco da frente de um táxi com um desconhecido, não é?
- Cala a boca e dirige a porra do carro.
- O quê moça?
- Nada não.
Não sei se ele ouviu, sei que virou-se e continuou dirigindo, como se eu não estivesse alí, só o meu par de pernas. Em frente ao prédio da editora, paguei o motorista e desci do carro, assim que me vi do lado de fora, olhei bem para a cara daquele escroto,sorri, e quando ele sorriu de volta mostrei um enorme ‘dedo do meio ‘ pra ele. É, me senti realizada, agora poderia entrar no prédio com a confiança de que precisava. Passei pela porta e vi uma secretariazinha de casaco vermelho, muito bem maquiada e de cabelo incrivelmente arrumado. Uma pontinha de inveja no peito, tudo bem. 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Capítulo 4 .

O dia seguinte seria como todos os outros, se não fosse pelo meu achado da noite anterior. Meu banho foi rápido, e o elevador não chegava, as escadas foram minhas salvadoras para a meia hora de atraso que eu tinha. Quando cheguei na lanchonete, não recebi bronca, nem olhares tortos, o lugar estava quase sem clientes, como de costume. Eu até que gostava de não trabalhar em um lugar que não fosse muito freqüentado, os poucos clientes mal-educados já me bastavam. Meu patrão, o senhor Alberto, nunca estava presente, mas seu filho, Messias, era o gerente e a lanchonete ficava em suas mãos. Messias era um porco arrogante, que assediava clientes e empregadas. Nunca dei muita bola para o que ele falava, as outras mocinhas que trabalhavam comigo tremiam de medo quando ele se aproximava, abaixavam as cabeças e tentavam disfarçar o temor. Tudo em vão! Aquele cachorro no cio sentia o cheiro do medo delas. Eu sempre respondia atravessado pra ele, toda a vez que vinha com suas cantadas de quinta! Naquele dia nem as cantadas de Messias estavam me importando, o conteúdo da pequena caixinha era o único assunto que ocupava minha mente. Assim que tive a chance, corri para a cozinha da lanchonete e disquei um dos números do papel. Não sabia ao certo o que ia dizer, agi por puro impulso. Assim que atenderam o telefone, me senti estranha, uma sensação de tremedeira tomou conta do meu corpo, tive a impressão que da minha garganta saíam borboletas, senti o pescoço pesado, acho que era arrependimento, como eu vou saber? Nunca tive essa sensação antes.
- Alô!?
Fiquei muda.
- Alô?! Alô?
Desliguei. Simplesmente não consegui falar nada, então achei melhor desligar, aliás, o que eu ia dizer? Seria burrice continuar com essa historia absurda de ligar e falar com alguém que eu não conheço. Amassei o papel e mirei na lata de lixo, mas por algum motivo que ainda não sei explicar, não joguei o papel na lata, enfiei o papel no bolso. A voz do outro lado da linha não saía da minha cabeça, uma voz masculina, era um timbre bonito e doce, que soava em mim como um eco. Por um momento me vi na adolescência, sonhando com um cara que nunca vi na vida,apenas por foto, imaginando que tipos de aventuras eu poderia viver ao lado dele, escrevendo uma história que ainda não tinha acontecido e que talvez nem viesse a acontecer, ao lado do tal cara da fotografia, o cara que dança balé. Caminhei em direção ao meu velho balcão, onde pensava e repensava nas mesmas coisas todos os dias, mas dessa vez, eu voltava pra lá, com outros pensamentos, outros interesses e outras perguntas sem respostas. Foi quando aquele maldito Messias se aproximou de mim e fez mais um de seus xavecos insuportáveis:
- E não é que hoje você parece até mais moça Olga.
- Não seja ridículo, deixei de ser moça a muito tempo.
- Isso é bom ...
- Bom pra quem? Só se for pro cara que ficou entre minhas pernas aquele dia.
Messias ficou ali parado, enquanto eu me afastada para ir até a mesa de um dos clientes que me chamara. Quando voltei, o desgraçado me disse:
- Escuta aqui Olga, você me desrespeitou por muito tempo, acho que está na hora de você saber quem manda aqui e a quem você deve respeito.
- Ora, vamos Messias!
- Você deveria pegar algumas dicas de como se deve tratar o chefe com Inara .
E saiu pela porta de vidro que ficava na entrada da lanchonete. Pude vê-lo acendendo seu cigarro e caminhando em direção ao carro. Olhei para trás e vi Inara, uma moça jovem, loira de olhos escuros, que mais pareciam duas jabuticabas, sua pele era branca e sedosa, seus dentes eram tão brancos, que quando sorria era como se o sol invadisse o lugar. Moça mais bonita que ela, nunca vi. Porque será que Messias havia feito tal comentário sobre ela? E reparando bem, lembrei-me que Inara não era mais a mesma, não sorria mais com frequência, não conversava com as outras mocinhas da lanchonete, muito menos com os clientes. Por um momento, veio-me um pensamento, que achei tão repugnante, a ponto de nem querer mais tê-lo em minha cabeça: “ Será que algo aconteceu entre Messias e Inara? Será que aquele bandido sujo fez algo a essa pobre moça? “ . Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do sino que marcava o fim do expediente, saí correndo do trabalho, em direção ao Botequim da esquina, uns drinks para tirar pensamentos porcos da cabeça. 

domingo, 10 de julho de 2011

Capítulo 3 .

“ Porra, quem Diabos será?! “ Acordei por causa do toque da campainha, levantei meio puta pelo sono interrompido, e abri a porta.
- Olá querida! Como vai?
Era a senhora Bulamarque, com aquela voz fina, trazia um prato em mãos, e sorria aquele mesmo sorriso meio escancarado que eu via todos os dias pela manhã, quando saía para o trabalho.
- Boa tarde senhora Bulamarque! No que posso ajudar?
- Oh! Já passa das 7 minha filha! Boa noite! Eu vim trazer algo para você comer, e também vim para ver como estás!
- Acho que não precisava se preocupar  assim senhora, estou bem, sério!
- Comida e cuidados nunca são demais minha filha!
Me entregou um prato coberto e saiu caminhando em direção ao seu apartamento, sempre falando sozinha, coisas que eu nunca consegui entender. Quando levantei o pano que cobria o prato, vi um pedaço grande de frango, vários legumes e verduras, uma grande quantidade de purê de batata e macarrão. Não comi. Tomei banho e saí, enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus pude ver pessoas saindo da igreja. “ Puta merda! Hoje é domingo! “ Pensei . “ Amanhã vou ter que ir para aquela maldita lanchonete, me sujar com aquela gordura nojenta e ter que olhar para aqueles clientes malditos, que só sabem comer e falar alto! “ .
Um sonoro “ bi bi “ me fez pular de susto, quase fui atropelada por um corsa 95 de cor cinza, minha vontade era gritar e esmurrar o dono daquela porcaria, mas talvez não valesse a pena, não com o dono de um corsa 95, carro feio da porra! Avistei o botequim da esquina ( nome que eu mesma dei, por não conseguir ler o que estava escrito na placa, devido a grande sujeira que continha ), entrei e fui me sentando no mesmo lugar de sempre, o barman chamava-se Bill, era loiro, tinha os olhos claros e a pele bem branquinha, tinha um sotaque engraçado porque veio da Suécia. Pedi o de sempre: um copo bem caprichado de tequila! Bebi vários copos,e minha cadeira parecia dançar embaixo de mim quando resolvi ir embora. Saí do boteco e caminhei em zig-zag até tropeçar e cair violentamente sobre uma poça d’água. Em meio aquela água suja comecei a rir e pensar no ridículo daquela situação, foi quando meus olhos pousaram sobre uma pequena caixinha marrom, que era justamente onde eu tinha tropeçado, levantei e balancei as mãos para enxugá-las, segurei a caixinha e permaneci alí, olhando fixamente pra ela,esperava o dono aparecer e reivindicar a posse da caixa, mas nada aconteceu, então segui meu rumo, em direção ao meu apartamento humilde. Acho que não andei mais rápido em direção ao meu Prédio, por estar bêbada, mas mesmo assim, a curiosidade tomava conta de mim. O senhor Onório assustou-se ao me ver toda suja e molhada, quis saber o que tinha me acontecido, mas nem lhe dei ouvidos, e ele, logo percebeu minha embriaguês, calou-se e fez a gentileza de chamar o elevador pra mim, não gostei do modo como ele me olhava, era como se tivesse pena, mas pena porque? Quem deveria ter pena dele, era eu! Afinal, era um senhor solitário que nunca tinha nem um tipo de diversão, a não ser cuidar de suas plantas e pássaros. Quando o elevador chegou, entrei e dei boa noite ao senhor Onório sem ao menos olhar pra ele. Ao chegar no quarto abri a caixa e vi um papel com dois números de telefone sem identificação e uma foto de um bailarino, diga-se de passagem, muito bonito,  parecia estar em um recital, com muitas luzes ao seu redor, pessoas aplaudindo e um cenário muito elegante. Não sei porque, resolvi que ia ligar para os dois números no dia seguinte, não sabia o que ia dizer, e nem o que iria ouvir, mas que diferença faria? Eu não tinha nada de melhor para fazer, a não ser ir para aquela lanchonete maldita, me sujar com toda aquela porcaria. Andei em direção a cama com a caixa na mão, deitei-me e a pus do meu lado, peguei a foto e olhei-a fixamente, acabei dormindo, com ela alí, em cima do meu seio esquerdo. 

domingo, 3 de julho de 2011

Capítulo 2 .

Meu apartamento se situava em uma zona não muito nobre da cidade, na verdade, meu bairro era bem escroto! O prédio era amarelo, 5 andares apenas, 2 quartos em cada andar, sendo que no último, existia apenas um, no qual o dono do prédio morava . Eu morava no quarto 3, ao lado de uma senhora loira, muito baixa, que falava em tom fino e sempre se vestia com roupas rosadas, era a senhora Bulamarque, que também era viúva. No andar de baixo, havia uma mocinha, chamada Cecília, que nunca estava em casa, pois sempre foi muito estudiosa, e as horas em que não estava na faculdade, estava na biblioteca mais próxima, aperfeiçoando seus conhecimentos. Ao lado de Cecília , no apartamento 2, morava um casal muito apaixonado, Ariane e Gustavo ( ou será que era Guilherme ? ), sempre estavam juntos, sempre se abraçando e se beijando, sempre naquele clima de eterna lua-de-mel . Isso sempre me irritava bastante, não sei se era pelo fato de eu não ter um romance daquele tipo, ou se era por eu achar tudo aquilo uma grande palhaçada fingida e ensaiada. O dono do prédio se chamava Onório, era um senhor elegante, sempre muito prestativo, e quando eu, por embriaguês, esquecia de pagar o aluguel, ele gentilmente me mandava um bilhetinho que sempre dizia a mesma coisa: “Não pretendo lhe incomodar senhorita, só para lembrá-la, a data para o pagamento do aluguel já se esgotou. Lhe aguardo quando puder conversar sobre tal assunto! Tenho um bom dia“  . Eu nunca soube ao certo se o senhor Onório tinha alguma esposa, namorada ou sei lá o que. Sempre estava sozinho, com seus livros e suas plantas, cantarolando e assobiando. Meu apartamento era simples, poucos móveis, poucas roupas, pouca comida, nada de mais. Mas era o meu lugar, minhas ressacas eram curadas alí, minhas dores, mágoas, e tudo mais. Meu quarto era arrumado, eu adorava colocar incensos de lavanda por todo o canto, me fazia lembrar da casa em que cresci.
Quando entrei no prédio, pude ver senhor Onório na sua velha rotina de todos os dias, regando suas plantinhas e assoviando a mesma canção alegre de sempre. Segui para o elevador e enquanto a porta se fechava, o vi acenando com uma das mãos, ainda suja da terra. O caminho para o meu quarto nunca pareceu tão longo, o prédio parecia ter 20 andares, ao invés de 3. Quando finalmente cheguei, abri a porta do quarto, me atirei na cama sem ao menos tirar os sapatos e dormi. Sonhei com todas as coisas da minha infância, com a minha velha casa, que tinha um quintal muito grande, cheio de flores que traziam um cheiro delicioso pra dentro da sala. Lembro de sempre odiar o meu nome, Olga Ferraz, nunca me soou bem. Sonhei com meus cadernos de anotações, onde eu escrevia minhas histórias, eu sempre quis ser escritora. Acordei com o coração apertado, cheio de lembranças boas, querendo nunca mais acordar, levantei-me e fui até a cozinha, abri a geladeira procurando algo para comer, encontrei metade de uma goiabada, suco de cereja e um pedaço de bolo, que não lembro ao certo quando deixei alí. Me acomodei no sofá, e fiquei vendo TV, confortavelmente encostada sobre um travesseiro que a senhora Bulamarque fez pra mim, adormeci novamente.
_
Olga Ferraz nasceu em Malta, uma cidade de interior, com poucos habitantes, onde todos se conheciam, cheia de casinhas coloridas, árvores, pequenos lagos e ladeiras que não acabavam mais. Olga teve uma infância tranqüila, filha única, sempre desejou ser escritora, escrevia seus contos em um belo caderno, estudava em uma escola só para meninas. Quando tinha 17 anos, sua mãe faleceu devido a um problema intestinal, e seu pai, perdido diante de tal tragédia, sumiu no mundo, deixando-a sozinha. Começou a trabalhar cedo, ajudava na floricultura de Dona Amália, ganhava comida, dinheiro e de vez em quando juntava pequenos buquês de flores para enfeitar a casa onde morava. Ao chegar na fase adulta, mudou-se para Bela Serra, onde empenhou-se em publicar um de seus livros, sem sucesso em nem uma das tentativas. Começou a beber para aliviar a sensação de derrota que tomava conta do seu corpo toda a vez que tomava um  “ não “ como resposta, uma sensação que se tornou permanente depois de um tempo,  sensação que não deixava transparecer, sempre odiou demonstrar fraqueza, não importando a situação. Arrumou um emprego em uma lanchonete, se instalou no apartamento amarelo do senhor Onório, e alí ficou, sem perspectiva de quando iria sair. Nunca deixou de escrever seus contos, e os enviava paras as editoras, acreditava que um dia iria conseguir publicar um deles. 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Capítulo 1 .

Acordei num quarto de hotel,me parecia ser um hotel barato,mas de fato, era limpo. Não faço idéia de como fui parar alí, a última coisa que me recordo é de estar sentada em um bar,com 2 garrafas de vinho vazias e uma terceira pela metade . O efeito do alcóol me fez adormecer profundamente, e como já disse, acordei naquele hotel barato e limpo. As cortinas eram vermelhas, duas em cada janela, a cama já era velha, com um lençol que parecia tecido à mão, um pequeno armário no canto do quarto guardava corbetores e toalhas brancas, um mesa de centro com um com um lenço rosa completava a decoração simples do lugar.
Levantei e caminhei até o banheiro, vi uma banheira, um espelho de pontas quebradas e um vaso sanitário meio amarelado. Ainda tentava lembrar de como tinha conseguido chegar alí, mas minha ressaca era forte demais para me preocupar com isso .
Depois de um longo banho naquela banheira de água gelada, fui até a janela e olhei a paisagem vazia do lugar, uma rua calma , com alguns bêbados dormindo pela calçada.
" Devem ser lá pelas 10 da manhã . " Pensei, enquanto enxugava os cabelos . Escutei batidas na porta, um rapaz alto, magro e com olheiras entrou , me avisando que deveria sair .
- Saia, o pagamento era só até as 11:00 hrs.
- E você é quem ?
- Alguém que está te mandando sair! Saia!

Não dei mais nem uma palavra, saí do quarto acompanhada pelo rapaz, que ao chegar no salão do hotel, me olhou da cabeça aos pés, riu, pegou uma revista e se pôs a ler. Não entendi direito o porque do sorriso, mas não gostei , perguntei:
- Vem cá cara, qual é a tua ? Me tira do quarto, e fica rindo de mim. Quê que é ?
Ele nem me deu ouvidos, continuou a ler tranquilamente .
- Como vim parar aqui ? Perguntei, meio desconfiada .
- E como eu vou saber ? O meu turno é durante o dia, você chegou a noite. Que foi ? Não conhece mais seus clientes ? Na certa, te embebedaram e saíram sem pagar!
- Vai te foder cara, não sou nem uma prostituta!
E saí , batendo a porta .

Andei sem rumo, olhando pro chão, enquanto minha memória voltava vagamente . Lembrei que estava naquele bar, e um cara qualquer se encostará ao meu lado, puxou conversa, e ficou o tempo todo tentando me levar pra outro lugar, pra sua casa talvez. De certeza, aquele cara era um completo imbecil! Mas me agradava ver o esforço dele para ter uma noite de sexo, era engraçado! Bebi, e quando já não aguentava mais o mandei pra longe, ele se zangou,se exautou, 3 caras fortes e sujos o botaram pra fora, enquanto uma gentil garçonete me ajudava a limpar o vinho que o desgraçado derramara sobre mim . A mesma garçonete me pôs num taxi e me encaminhou a um hotel, sim, aquele hotel barato e limpo em que acordei! Ótimo! De fato, eu já sabia o que tinha me acontecido aquela noite , já não era um mistério pra mim, isso me tranquilizava. Suspendi o olhar e pude ver que o sol já ia alto no céu, " Já deve ter passado da hora do almoço! " . Vi que não estava muito longe de casa, na verdade, vi que aquele lugar era familiar, de um passado não muito distante . " Rua dos memorandos ", lí em uma plaquinha, um nome bem sugestivo . Resolvi ir caminhando pra casa, até porque não tinha um puto no bolso, eu só queria descançar .