- Olá querida! Como vai?
Era a senhora Bulamarque, com aquela voz fina, trazia um prato em mãos, e sorria aquele mesmo sorriso meio escancarado que eu via todos os dias pela manhã, quando saía para o trabalho.
- Boa tarde senhora Bulamarque! No que posso ajudar?
- Oh! Já passa das 7 minha filha! Boa noite! Eu vim trazer algo para você comer, e também vim para ver como estás!
- Acho que não precisava se preocupar assim senhora, estou bem, sério!
- Comida e cuidados nunca são demais minha filha!
Me entregou um prato coberto e saiu caminhando em direção ao seu apartamento, sempre falando sozinha, coisas que eu nunca consegui entender. Quando levantei o pano que cobria o prato, vi um pedaço grande de frango, vários legumes e verduras, uma grande quantidade de purê de batata e macarrão. Não comi. Tomei banho e saí, enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus pude ver pessoas saindo da igreja. “ Puta merda! Hoje é domingo! “ Pensei . “ Amanhã vou ter que ir para aquela maldita lanchonete, me sujar com aquela gordura nojenta e ter que olhar para aqueles clientes malditos, que só sabem comer e falar alto! “ .
Um sonoro “ bi bi “ me fez pular de susto, quase fui atropelada por um corsa 95 de cor cinza, minha vontade era gritar e esmurrar o dono daquela porcaria, mas talvez não valesse a pena, não com o dono de um corsa 95, carro feio da porra! Avistei o botequim da esquina ( nome que eu mesma dei, por não conseguir ler o que estava escrito na placa, devido a grande sujeira que continha ), entrei e fui me sentando no mesmo lugar de sempre, o barman chamava-se Bill, era loiro, tinha os olhos claros e a pele bem branquinha, tinha um sotaque engraçado porque veio da Suécia. Pedi o de sempre: um copo bem caprichado de tequila! Bebi vários copos,e minha cadeira parecia dançar embaixo de mim quando resolvi ir embora. Saí do boteco e caminhei em zig-zag até tropeçar e cair violentamente sobre uma poça d’água. Em meio aquela água suja comecei a rir e pensar no ridículo daquela situação, foi quando meus olhos pousaram sobre uma pequena caixinha marrom, que era justamente onde eu tinha tropeçado, levantei e balancei as mãos para enxugá-las, segurei a caixinha e permaneci alí, olhando fixamente pra ela,esperava o dono aparecer e reivindicar a posse da caixa, mas nada aconteceu, então segui meu rumo, em direção ao meu apartamento humilde. Acho que não andei mais rápido em direção ao meu Prédio, por estar bêbada, mas mesmo assim, a curiosidade tomava conta de mim. O senhor Onório assustou-se ao me ver toda suja e molhada, quis saber o que tinha me acontecido, mas nem lhe dei ouvidos, e ele, logo percebeu minha embriaguês, calou-se e fez a gentileza de chamar o elevador pra mim, não gostei do modo como ele me olhava, era como se tivesse pena, mas pena porque? Quem deveria ter pena dele, era eu! Afinal, era um senhor solitário que nunca tinha nem um tipo de diversão, a não ser cuidar de suas plantas e pássaros. Quando o elevador chegou, entrei e dei boa noite ao senhor Onório sem ao menos olhar pra ele. Ao chegar no quarto abri a caixa e vi um papel com dois números de telefone sem identificação e uma foto de um bailarino, diga-se de passagem, muito bonito, parecia estar em um recital, com muitas luzes ao seu redor, pessoas aplaudindo e um cenário muito elegante. Não sei porque, resolvi que ia ligar para os dois números no dia seguinte, não sabia o que ia dizer, e nem o que iria ouvir, mas que diferença faria? Eu não tinha nada de melhor para fazer, a não ser ir para aquela lanchonete maldita, me sujar com toda aquela porcaria. Andei em direção a cama com a caixa na mão, deitei-me e a pus do meu lado, peguei a foto e olhei-a fixamente, acabei dormindo, com ela alí, em cima do meu seio esquerdo.